Fotos: Matheus Reche
Em “Um tempo pra mim”, a psiquiatra Ana Beatriz Barbosa Silva — autora best-seller de títulos como Mentes ansiosas, Mentes perigosas e Mentes inquietas — propõe uma jornada diária de autocuidado emocional. O livro convida o leitor a reservar apenas 10 minutos por dia para olhar para dentro, refletir e se conectar com seus sentimentos, reações e comportamentos. Mais do que um guia, o livro funciona como um diário interativo: para cada dia do ano, há uma breve lição sobre saúde mental acompanhada de um exercício prático e espaço para anotações pessoais.
O diferencial da obra está justamente na interatividade. Em um tempo em que os leitores desejam mais do que apenas consumir informação, livros que estimulam a participação ativa vêm ganhando força. O sucesso de obras com espaços para escrita, reflexões ou desafios revela uma necessidade coletiva de se colocar como sujeito da própria história. Ao permitir que o leitor reaja ao conteúdo com suas próprias palavras, Ana Beatriz coloca nas mãos de cada pessoa uma ferramenta valiosa de autoconhecimento e mudança real.
Ana Beatriz, além de médica com formação internacional, tornou-se conhecida do grande público por suas participações em programas de TV e entrevistas que viralizam nas redes sociais. Os "cortes" de suas falas circulam amplamente no Instagram e TikTok, mostrando o quanto suas abordagens diretas e acessíveis sobre a mente humana têm impacto. Mas o mérito vai além da popularidade: Ana é uma estudiosa profunda do comportamento humano, e isso se reflete na solidez do conteúdo de seus livros.
Vivemos em uma sociedade marcada por pressões constantes e sofrimento psíquico crescente. O aumento da busca por livros voltados ao cuidado mental não é coincidência — é sintoma. As pessoas estão precisando de pausas, de escuta, de ferramentas práticas. O livro “Um tempo pra mim” atende a esse chamado com delicadeza e consistência. É um convite para desacelerar e fazer um compromisso com o próprio bem-estar. E o mais bonito: é possível começar em qualquer dia do ano. Mais do que uma obra para ser lida, este é um livro para ser vivido.
Como a leitura de livros físicos pode fortalecer a saúde mental
Vivemos em um tempo de excessos. De estímulos, de telas, de notificações constantes, de pressão por produtividade e por conexões que, muitas vezes, não aprofundam. Em meio a esse turbilhão digital e emocional, ressurge com força um gesto simples e ancestral: abrir um livro físico, tocar suas páginas, sentir o cheiro do papel e mergulhar, aos poucos, no silêncio de uma narrativa. Não por acaso, a leitura de livros físicos tem sido cada vez mais associada a benefícios concretos para a saúde mental.
A ciência já demonstrou que a leitura regular contribui para a redução dos níveis de estresse. Estudos de universidades internacionais mostram que ler por apenas seis minutos pode reduzir o estresse em até 68% — mais do que ouvir música ou caminhar. Isso acontece porque, ao mergulhar em uma história, o cérebro desacelera, a respiração se torna mais tranquila e os batimentos cardíacos diminuem. Diferente de quando estamos rolando o feed do celular ou lidando com mensagens instantâneas, a leitura nos conduz a um estado de atenção profunda, quase meditativa.
E por que o livro físico, em especial, tem esse poder? Há algo de terapêutico no ritual da leitura em papel. A escolha do livro, o toque na capa, o ato de abrir, marcar a página, dobrar um cantinho, sublinhar uma frase importante. Diferente da tela — que oferece mil distrações — o livro físico convida à presença. Ele exige corpo e atenção. Você segura o objeto, se acomoda, se entrega. E ao fazer isso, envia uma mensagem sutil e poderosa para si mesmo: “este momento é meu”.
Essa experiência sensorial e tátil tem importância emocional. O cheiro do livro, o som das páginas virando, a sensação de progresso visível ao ver o marcador avançar — tudo isso ativa áreas do cérebro ligadas à memória afetiva. Em tempos de ansiedade e excesso de informação, a leitura em papel oferece uma espécie de âncora, uma pausa no ritmo acelerado da vida.
Além disso, livros físicos não têm notificações, anúncios nem links clicáveis. Eles não querem te vender nada. Não medem o tempo que você passou ali. São espaços de refúgio, de imaginação livre, de escuta interna. Em um mundo onde o foco virou um bem raro, o livro físico oferece concentração e intimidade com o próprio pensamento.
Outro aspecto relevante é o vínculo emocional que criamos com os livros. Uma leitura marcante fica registrada na memória como um encontro. Lembramos da história, mas também de onde estávamos, como nos sentíamos, quem éramos naquele momento. É como se cada livro guardasse também um retrato emocional do leitor. E quando voltamos àquelas páginas anos depois, podemos reencontrar partes de nós que estavam adormecidas ou esquecidas.
Na prática clínica, muitos psicólogos e psiquiatras já indicam a leitura como recurso complementar ao tratamento de ansiedade, depressão ou estresse crônico. Isso porque a leitura estimula o raciocínio, a empatia, a reflexão e o autoconhecimento — todas ferramentas fundamentais para o fortalecimento da saúde mental. Personagens que enfrentam dilemas, fracassos, dúvidas e transformações funcionam como espelhos simbólicos. Podemos aprender, crescer, chorar ou rir com eles — e, assim, nos compreendermos melhor.
Outro ponto importante é a desaceleração do tempo. O livro físico nos educa a ir devagar, a não pular etapas. Num mundo de hiperconexão, cultivar o hábito da leitura em papel é também um exercício de paciência e foco. Ao nos comprometer com uma narrativa longa, estamos reaprendendo a sustentar o interesse, a lidar com o tédio e a se aprofundar. Isso tem efeitos diretos na nossa capacidade de lidar com a vida, que nem sempre é rápida ou interessante o tempo todo.
Por fim, há uma beleza silenciosa no encontro com o livro. Ele não exige performance, não cobra retorno imediato, não julga. Ele apenas espera, aberto, disponível. E quando nos dispomos a ouvi-lo, podemos descobrir em suas páginas conselhos sutis, palavras de consolo, mundos alternativos, novas perguntas — e, em muitos casos, um pouco de cura.
Com a popularização dos livros interativos, como diários de gratidão, agendas de autocuidado e leituras com espaços para escrita — como é o caso de “Um tempo pra mim” — esse processo se intensifica. Escrever no próprio livro, refletir com ele, marcar as páginas como quem conversa com um velho amigo é uma forma de protagonizar a leitura e transformar o livro em extensão da própria vida. Essa tendência mostra o quanto as pessoas estão buscando experiências mais profundas e pessoais com a leitura — e não apenas consumir histórias, mas reagir a elas, transformar-se junto.
Em um mundo cada vez mais veloz e impessoal, sentar-se com um livro no colo, folheá-lo com calma e permitir que suas palavras entrem em nós é um gesto de resistência. Mais do que um hábito intelectual, é um ato de cuidado.
Ler livros físicos não cura tudo, mas pode ser o início de uma pausa necessária. Um espaço para respirar. Um tempo para si. E às vezes, é justamente isso que a nossa saúde mental mais precisa.
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